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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Mistérios do Rio Nilo

O Rio Nilo sempre despertou um grande fascínio no coração e na mente dos homens de todos os tempos.

Testemunha do nascimento e morte de grandes civilizações. Beberam de suas águas grandes faraós, Moisés, Cleópatra, Alexandre, Napoleão e tantos outros personagens da história da humanidade.

Reverenciado e saudado em preces e cânticos, o Grande Rio é identificado como o deus Hapi e assim dizem os hieróglifos:

“Salve Hapi, aparece na Terra e vem dar vida ao Egito; tu que encobres tua vinda nas trevas... mas que invade os campos... para dar vida a todos que têm sede. Quando se levanta toda a Terra clama de alegria, de júbilo e exulta todo o ventre...”

Impassível, o Nilo continua sua trajetória, dividindo o deserto ao meio e separando o mundo dos vivos do mundo dos mortos, contemplando em suas margens cidades que nasceram e desapareceram, pirâmidesque superam o próprio passar do tempo, a esfinge guardiã, túmulos de reis e rainhas, templos, obeliscos, esculturas, pinturas e muitos outros tesouros da humanidade.

Mas que Rio é esse que parece contrariar todas as possibilidades, insistindo em correr do Sul para o Norte, direção contrária dos grandes rios conhecidos da Antigüidade.

Nos meses mais tórridos e secos do ano, após vencer o deserto por dois mil quilômetros, sem receber chuva e água de nenhum afluente, começa a encher e então transborda, e o que poderia ser prenúncio de uma tragédia é na verdade uma dádiva, inundando a areia, subjugando o deserto, revertendo à secura e a aridez da terra, até que, saciado e feliz por ter cumprido sua missão, retorna triunfante ao seu leito.

Então, por onde suas águas pardacentas passaram, a terra retribui com uma improvável fertilidade: as sementes germinam, o trigo e outras culturas brotam do solo, em suas margens cresce o papiro, usado no passado como papel e no revestimento de casas e barcos. E mais, após a vazante, o solo retém uma substância conhecida como natrão, cuja principal utilização é a conservação da matéria orgânica, dada a sua excelente capacidade de absorver a umidade do ar, sendo muito útil, portanto, no processo de mumificação.

Alguém o definiu como uma gigantesca linha da vida no meio do desespero, um imenso oásis. Realmente, ao redor do seu vale vive 90% da população do Egito, reunindo três fatores que garantem a prosperidade: a água, a terra arável e o trabalho humano, E, além disso, o Nilo é uma extraordinária via de acesso, plenamente navegável em boa parte do seu trajeto, fazendo com que os antigos egípcios pudessem até se dar ao luxo de prescindir da roda para se locomover por seu reino.

Muitos foram os que procuraram entender a obscura lógica do grande Rio. Os faraós mandaram instalar medidores, marcas nas pedras conhecidas como “nilômetros”, na tentativa de medir as cheias e, dessa forma, poder prever as safras.

Heródoto, o grego, encantou-se com os mistérios do Nilo e para lá viajou em 460 a.C. O Pai da História queria ver de perto aquilo que seu compatriota, o geógrafo Hecateu, afirmava com convicção: "O Egito é uma dádiva do Nilo”.

Mas Heródoto queria saber onde ficava a nascente daquele imenso aqueduto que atravessa toda a África. O grego, porém, desistiu de continuar a subir o rio assim que transpôs a primeira catarata e viu-se frente a frente com a densa e perigosa floresta africana. Mas isso não o impediu de afirmar que, em sua opinião, o Nilo brotaria de fontes que viriam das profundezas da terra.

Quinhentos anos depois, outro geógrafo, Ptolomeu, se debruçaria sobre a questão da nascente do Nilo. Em seu mapa de 150 d.C. ele apontava que o rio nasceria de dois grandes lagos alimentados pelo derretimento da neve das célebres Montanhas da Lua, tão presentes nas lendas africanas.

Napoleão Bonaparte também se deixou influenciar pelos mistérios do Nilo. Ao conquistar o Egito, com o mapa de Ptolomeu nas mãos, mandou que sua equipe, formada por especialistas de vários conhecimentos humanos, subisse o rio na tentativa de encontrar a sempre buscada nascente. A expedição chegou até Assuâ e a guerra com os ingleses interrompeu seu objetivo maior, mas não impediu que a França ficasse sabendo da existência de templos maravilhosos.

O pensador francês Montesquieu, no século XVIII, quis encerrar a discussão, ao afirmar: “não foi dado a nós mortais ver o Nilo frágil e na sua nascente”.

Mas a obsessão pela descoberta das nascentes do Nilo continuaria ao longo do tempo. Com o advento do século XIX, os ingleses e exploradores de outros países julgavam que não haveria mais mistérios na Terra a serem desvendados, a não ser, evidentemente, um que ainda teimava em persistir: onde nasceria o Nilo?

A incansável busca péla nascente, tem uma fácil explicação: Para se saber se o Nilo é realmente o rio mais extenso do mundo, e não o Amazonas, é preciso medi-lo. E, para medi-lo, é preciso saber onde ele começa.

A África, no século XIX, passou a ser conhecida como o “continente negro”, nome erroneamente atribuído a cor da sua população, mas que na realidade se referia aos pontos negros registrados nos mapas da época, indicando que várias regiões africanas eram ainda totalmente desconhecidas pelo homem branco.

A Real Sociedade Geográfica, principal centro de exploradores da época, estava em polvorosa. A Instituição se mostrava disposta a financiar uma expedição que resolvesse de vez o mistério do Nilo. Vários exploradores então se candidataram para a façanha, entre eles o experiente Richard Francis Burton e seu acompanhante John Speke. Uma busca incansável também seria feita pelo lendário Dr. David Livingstone e Henry Morton Stanley o jornalista que partiu em busca do missionário e explorador inglês que se encontrava totalmente perdido no continente africano.

Inúmeras hipóteses seriam então aventadas, fruto de várias expedições que se tornariam verdadeiras epopéias. Burton defendia a tese de que o Nilo nasceria no lago Tanganyka ou um pouco mais adiante.

Speke dizia que a nascente seria o Lago Victoria, mas admitia que poderia haver um outro lago que por sua vez alimentaria o Victoria.

Livingstone achava que Burton teria razão, mas acabou morrendo 1000 quilômetros de distância de onde o Nilo realmente brota.

Pesquisas mais recentes que contaram inclusive com a ajuda de imagens obtidas por satélite indicam que, na realidade, não existiria uma única nascente do Nilo e sim um complexo formado por um confuso sistema de rios, lagos e montanhas.

A conclusão a que os pesquisadores chegaram, utilizando técnicas modernas, é que o Grande Rio brota do chão saindo das profundezas da terra, no alto das montanhas do Burundi, a meio caminho entre os Lagos Tanganyka e Victoria.

Qual explorador dessa interminável linha do tempo estava certo? Todos tiveram a sua parcela de razão, mas talvez Ptolomeu tenha sido aquele que mais se aproximou da verdade.

Mas se hoje se sabe onde nasce o Nilo, qual seria o maior rio da Terra? O Nilo ou o Amazonas? Seria o Nilo se outras pesquisas mais recentes não indicassem que a verdadeira nascente do Amazonas pode não ser aquela que hoje é considerada e sim outra numa região ainda mais remota.

Passam-se os anos e o Nilo continua imperturbável face a vaidade humana, seguindo seu caminho de eterno mistério, enigma que se junta a outros que com certeza a areia do deserto ainda cobre.
(fonte: forum.angolaxyami.com)

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